A elaboração do Luto e as adaptações da Vida - artigo semanal da Diocese de Jales
“Reencontrarás o meu coração, reencontrarás nele a ternura purificada. Enxuga tuas
lágrimas e não chores, se me amas: o teu sorriso é a minha paz.” – Santo Agostinho
Atravessar o caminho de elaboração da perda de alguém amado e da adaptação a uma
nova realidade de vida sem dúvida é um dos processos mais desafiadores e difíceis da
nossa existência terrena. É através das relações humanas, dos afetos familiares e
fraternos que nos constituímos em nossa individualidade e através dessas relações
norteamos também nossos referenciais de mundo, nos mais diferentes aspectos. Temos
a tendência a pensar e sentir o mundo de maneira semelhante àqueles com quem mais
convivemos.
Carregamos orgulhosamente em nós os trejeitos de um avô amado, o tempero da
avó querida, a paixão pelos livros daquela tia professora, as habilidades manuais do tio inventor, o gosto musical compartilhado com um irmão artista e o olhar amoroso e
compassivo de nossos pais e outras pessoas que são referenciais de afeto.
Quando vivemos a perda, parece que um buraco em nossa vida se abre. O luto
nos dá a sensação de que algo essencial nos foi tomado, e a partir desse instante nos vemos perdidos, pois por alguns momentos sentimos que nosso referencial de mundo se transformou. E sim, tudo mudou.
Mesmo que em algumas situações, o momento da perda seja de alguma forma
previsível, nunca é possível se preparar totalmente para o luto. Cada relação humana é única, e só podemos saber o que sentiremos na ausência do convívio com cada pessoa
quando vivemos essa situação.
Considerando os aspectos emocionais, é esperado que as pessoas precisem de
tempo para viver o processo de elaboração do luto. Segundo o mundialmente citado
modelo da psiquiatra suíça, Elisabeth Kübler-Ross, passaremos pelas fases da negação,
raiva, barganha e depressão, até que cheguemos à aceitação do luto. Não há um tempo
exato para esse processo.
Quando chegamos à aceitação, não significa que não sentiremos saudades e
mesmo alguns rompantes de tristeza. Mas conseguimos nos lembrar da pessoa querida
de forma que prevalecem as lembranças do amor vivido e dos inúmeros momentos
essenciais passados juntos.
Dessa forma, o amor perdura. E não é clichê dizer que aqueles que nos deixam,
seguem vivendo através de nós, de nosso amor, comportamentos e atitudes. E se a
conversa costumeira já não é possível, que lhes dediquemos nosso carinho, gratidão e
orações.
É certo que a oração e o fortalecimento da fé são caminhos essenciais para o
conforto no momento da dor, pois, embora a separação possa ser dura, conseguimos
alento na convicção do reencontro na vida eterna, ao lado do Pai.
Fernandópolis, 29 de outubro de 2024.
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